15 CANÇÕES QUE NÃO VENCERAM O FESTIVAL DA CANÇÃO MAS PODIAM TER VENCIDO

    O Festival Eurovisão da Canção 2021 chegará neste mês de Maio e já está apurada a canção que irá representar Portugal na sua edição número 65. O país anfitrião é o outrora chamado “Holanda” – já que o correcto agora é dizer-se “Países Baixos” – e a cidade escolhida é Roterdão.

 


         Um aparte: como nos referimos agora a este país, estando o seu nome no plural e tendo a palavra “Países” no nome? Estranho, no mínimo. Diremos «– Vou ao Países Baixos» ou «– Vou aos Países Baixos»? Já consigo imaginar um fósmeo diálogo:

«– Vives em que país?

– Países Baixos.

– Mas em que país?!

– Países Baixos.

– Já percebi que é nos Países Baixos. Mas em qual deles?

– Países Baixos. É o país onde vivo.

– Desisto.»


    A canção portuguesa foi escolhida a partir do tradicional Festival RTP da Canção e contou com os votos de um painel de ilustres jurados, bem como de milhares de telespectadores do programa através de televoto. O título da canção é “Love Is On My Side”, os intérpretes são os The Black Mamba (banda de enorme sucesso fundada em 2010) e o autor da música e da letra é o seu vocalista Pedro Taborda, mais conhecido por Tatanka. É a primeira vez que Portugal se faz representar na Eurovisão com um tema integralmente em Inglês. As críticas ao facto da canção não ser em português não se fizeram esperar. O idioma inglês tem a vantagem de transportar a mensagem da letra a mais gente, diria eu. Contudo, apenas por uma questão patriótica, devo confessar que também preferia que esta fosse na nossa língua-mãe. No fim de contas, a verdade é que nenhuma regra impede que seja usado um idioma estrangeiro na composição da letra da canção a concurso. Lembre-se que em 1974 (quando Portugal nascia para a democracia) já os suecos ABBA venciam o certame com um tema intitulado “Waterloo” – adivinhe-se – todo em inglês. Deixemo-nos de implicância!



    A importância do Festival RTP da Canção (que curiosamente já teve vários nomes diferentes, sendo o primeiro deles “Grande Prémio TV da Canção Portuguesa”) é inquestionável na medida em que recheou o nosso cancioneiro comum ou a nossa memória musical colectiva de canções que quando tocam nos fazem sentir – por algum motivo – mais portugueses. Todos cantamos de trás para a frente êxitos como «Sei quem ele é, ele é bom rapaz, um pouco tímido até…» (canção “Ele e Ela” interpretada por Madalena Iglésias em 1966) ou «Peguei, trinquei, meti-te na cesta…» (canção “Amor D’Água Fresca” interpretada por Dina em 1992). Todos sabemos dizer «Adeus» em quatro línguas estrangeiras graças ao tema de 1980 “Um Grande, Grande Amor” de José Cid. Todos viramos a cabeça para o lado com rapidez – ao ritmo da música – logo depois de ouvirmos Carlos Paião a dizer «Em Playback» (canção de 1981) ou gritamos «ei!» à medida que as Doce vão entoando as horas da madrugada na sua canção “Bem Bom” de 1982. Apesar de não conhecermos a letra na íntegra, não há português que não acompanhe a diva Simone de Oliveira na parte do «Larai larai larai larai…» da sua “Desfolhada” de 1969. Todos os anos, em Abril, as rádios e televisões lembram-nos que foi uma canção do Festival que serviu de senha para o início da Revolução dos Cravos (“E Depois Do Adeus”, Paulo de Carvalho, 1974). Aposto que todos já saltámos eufóricos cantando «Já fui ao Brasil, Praia e Bissau, Angola, Moçambique…» do tema “Conquistador” interpretado pelos Da Vinci em 1989. As canções “Lusitana Paixão” (Dulce Pontes, 1991), “A Cidade (Até Ser Dia)” (Anabela, 1993) e “Chamar A Música” (Sara Tavares, 1994) são obrigatórias em qualquer boa sessão de karaoke.



    O pior resultado de uma canção portuguesa neste Festival foi o 40º lugar dos Homens da Luta com a canção “A Luta É Alegria” em 2011. Em 1997, Lúcia Moniz e o seu cavaquinho estiveram o mais perto da vitória que já se conseguira até então: 6º lugar. O tema “O Meu Coração Não Tem Cor” arrecadou o título de Melhor Qualificação Portuguesa de Sempre; até Salvador Sobral ter – finalmente – conseguido o primeiro 1º lugar para Portugal na Eurovisão. A canção chama-se “Amar Pelos Dois”, foi composta pela irmã do intérprete – Luísa Sobral – e voltou a colocar o tema «Festival da Canção» na ordem do dia dos portugueses.





Mas não foram só as canções vencedoras que mereceram a atenção e o carinho dos portugueses. Há canções do nosso imaginário lusitano que não representaram Portugal na Eurovisão mas tiveram tanto ou mais sucesso como aquelas que lá foram. Há canções que talvez não percebamos o porquê de as conhecermos tão bem; e a resposta está aqui: estiveram no Festival RTP da Canção (mas não venceram).

Estas são:

15 CANÇÕES

QUE NÃO VENCERAM O FESTIVAL DA CANÇÃO

MAS PODIAM TER VENCIDO

POR ORDEM CRONOLÓGICA


1) Porta Secreta (1967)



Intérprete: Artur Garcia

Música: Carlos Canelhas | Letra: António José




2) Flor Sem Tempo (1971)

 

 
Intérprete: Paulo de Carvalho

Música: José Calvário | Letra: José António de Sottomayor




3) No Dia Em Que O Rei Fez Anos (1974)






Intérpretes: Green Windows

Música e Letra: José Cid 



4) A Rosa Que Te Dei (1974)




Intérprete: José Cid

Música e Letra: José Cid




5) Estrela Da Tarde (1976)



Intérprete: Carlos do Carmo

Música: Fernando Tordo | Letra: José Carlos Ary dos Santos




6) No Teu Poema (1976)




Intérprete: Carlos do Carmo

Música e Letra: José Luís Tinoco


    Nota: no ano de 1976 todos os temas a concurso foram interpretados por Carlos do Carmo. O cantor foi escolhido pela RTP para representar Portugal na Eurovisão, sendo que houve concurso aberto para a composição das canções. O programa adoptou o nome de "Uma Canção Para A Europa" e a vencedora foi “Uma Flor De Verde Pinho” com música de José Niza e letra de Manuel Alegre.




7) Zé Brasileiro, Português De Braga (1979)



Intérprete: Alexandra

Música: António Sala | Letra: Vasco Lima Couto




8) Ali-bábá (Um Homem Das Arábias) (1981)




Intérpretes: Doce

Música: Nuno Rodrigues | Letra: António Pinho




9) Trocas E Baldrocas (1982)



Intérprete: Cândida Branca Flor

Música e Letra: Carlos Paião




10) Vinho Do Porto (Vinho De Portugal) (1983)




Intérpretes: Cândida Branca Flor e Carlos Paião

Música e Letra: Carlos Paião




11) A Cor Do Teu Batom (1983)



Intérprete: Herman José

Música: Tó Zé Brito | Letra: António Pinho





12) Umbadá (1985)




Intérprete: Jorge Fernando

Música e Letra: Jorge Fernando




13) Dessas Juras Que Se Fazem (1986)



Intérprete: Né Ladeiras

Música: Rui Veloso | Letra: Carlos Tê





14) Cai Neve Em Nova Iorque (1988)




Intérprete: José Gonçalo Tavares

Música e Letra: José Cid




15) O Amor É Uma Fonte (2006)



Intérprete: Beto

Música: José Marinho | Letra: José Jorge Letria






Menções honrosas (só para quem gosta mesmo muito do Festival):

 

§  No ano de 1967 Portugal conheceu a potente voz de Marco Paulo com a canção “Sou Tão Feliz”.

§  Em 1968 Nicolau Breyner participa no Festival cantando o magnífico tema “Pouco Mais”.

§  No mesmo ano de 1968, vemos pela primeira vez José Cid e o Quarteto 1111 com a canção “Balada Para D.na Inês”.

§  A primeira participação de Fernando Tordo foi em 1969 com a canção “Cantiga”.

§  Já Paulo de Carvalho estreou-se nestas andanças em 1970 com “Corre Nina”.

§  Juntamente com Tonicha e Paulo de Carvalho, Fernando Tordo completa, em 1971, aquele que muitos consideram o melhor pódio de sempre. Foi com a canção “Cavalo À Solta”.

§  Em 1972 Paco Bandeira arrecada o 2º lugar com “Vamos Cantar De Pé”.

§  Ainda em 1972 o nome tão associado ao Festival – To Zé Brito – interpreta “Se Quiseres Ouvir Cantar”.

§  No ano de 1975 um jovem chamado Jorge Palma participa no concurso com duas canções: “Viagem” (a solo) e “Pecado (do) Capital” (em dueto com Fernando Girão).

§  Em 1985 surge no Festival a banda Delfins com – um quase imberbe – Miguel Ângelo a cantar “A Casa Da Praia”.

§  No ano de 1986 os exuberantes Trabalhadores do Comércio brindaram o público com “Os Tigres De Bangala”.

§  O ano de 1988 deu-nos, provavelmente, a performance mais pop-style do maior cantor romântico português de todos os tempos: Tony Carreira. Ainda com o seu nome de baptismo – António Antunes – o artista participou com o tema “Uma Noite A Teu Lado”.

§  No ano seguinte, outro grande cantor romântico – por muitos apelidado de «Julio Iglesias português» – aparece interpretando “Palavras Cruzadas”. Falo de José Alberto Reis, em 1989.

§  No início da última década do segundo milénio (1990) vemos pela primeira vez um dos mais profícuos compositores da música ligeira e popular portuguesa: Toy e a canção “Mais E Mais”.

§  O «Rei da Música Pimba» – Emanuel – também participou no certame. Foi em 1991 com o tema “Com Muito Amor”.

§  Em 1992 Rita Guerra já cantava bem. Ouça-se o tema “Meu Amor Inventado Em Mim”.

§  Em 2007 dois grandes cantores e actores do teatro musical – Vanessa Silva e Henrique Feist – juntaram-se para nos oferecer “Além Do Sonho”.

§  A mesma intérprete – Vanessa Silva – apareceria a solo no ano seguinte (2008) com a bela cantiga “Do Outro Lado Da Vida”.

§  Quatro anos depois de ter representado Portugal na Ucrânia em dueto, Luciana Abreu aparece sozinha, em 2009, com o tema forte “Juntos Vamos Conseguir (Yes We Can)”.

§  Curiosamente, uma das canções mais conhecidas do artista ligeiro Axel (filho do consagrado Fernando Correia Marques) concorreu no Festival RTP da Canção: “Boom Boom Yeah”, em 2011.

§  Em 2018 Diogo Piçarra apresentou a “Canção Do Fim” envolta em polémica dadas as semelhanças com um tema de 1979 que levantaram a suspeita de plágio. O artista desistiu da competição.

§  Este ano (2021) traz-nos uma canção de Carolina Deslandes onde a artista – mais uma vez – expõe artisticamente a sua vida amorosa com toda a autenticidade que a caracteriza. “Por Um Triz” é o título.



Obrigado pela leitura.

O autor.

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